Não vou esperar como se pressentisse o vazio. Vou esperar, porque se eu acredito em esperar é porque eu acredito, mesmo que só um pouco, que virá. Enquanto isso, vou contemplar o céu da madrugada quando ele tiver cor de vinho-com-leite-condensado, apesar do medo de que escorra pelos prédios. (A receita é essa) Não vou mais assistir ninguém indo embora, por quaisquer motivos que sejam. E vou aceitar que elas ficam em mim, porque é inevitável que fiquem, embora talvez elas tenham ido por não quererem ficar em mim ou embora talvez eu nem queira mais que elas fiquem. Eu vou me esquivar de certos pensamentos, porque preciso dormir. E vou respirar quando eu não for capaz. Eu vou me apropriar das palavras suas quando as disser para mim, porque eu não consigo dizer nada que já não seja previsto, a não ser que esteja bêbada. O ato de comunicar me aprisiona em todas as coisas que eu não disse, permaneço atrás das formas cristalizadas da linguagem, sem perspectiva de me libertar, a não ser pela arte que eu ainda não sei criar (ou pela bebedeira que dilui essa coerção cultural em que me encontro). E digo isso para aliviar todas as outras frases que em mim contive, como quem segura um arroto e depois assopra, só que o meu foi um suspiro. Palavras, talvez, apenas. Mas sem sentido. Eu murmurei, ou pensei. Talvez alguém consiga codificá-las do outro lado, porque eu sei o que elas significam e queria que você soubesse tudo o que sinto. Mas eu não sou o Proust e, por isso, fica impossível descrever. Se eu sinto algo de ruim nesse momento. Eu não. É só essa ansiedade que é sintoma da nossa experiência social. Que é sintoma de ter um celular que te segue o dia inteiro, ou um computador com internet em qualquer lugar. Fico lembrando do tempo em que não vivi e achando bem legal. Tudo acontece na minha mais pura subjetividade. Às vezes nego a minha inadequação ao mundo, às vezes explico minha ansiedade assim. Às vezes, minha paralisia. De repente, me vejo fazendo o que tenho que fazer, vejo a volta da vontade de comunicar, qualquer coisa que seja, mesmo que pelas suas palavras, tão previsíveis quanto as minhas. Só tenho o desejo de me libertar, porque a cristalização é imperativa sobre mim. Descobri isso hoje.
Como é que a língua pode, ao mesmo tempo, prometer que eu vou me comunicar e negar a comunicação? Eu não entendi.
Como é que de tudo fica um pouco? Por que só um pouco? Como faz pra ficar tudo?
Como é que se espera sem contar as horas, sem presenciar miragens, sem escutar sons que não existem e sem achar que o vento é uma pessoa?
Qual é a metáfora pro silêncio das coisas que você não disse, que eu não disse, pro silêncio da sua ausência e da minha falta?
Como é que eu faço o Sol ficar em mim mesmo quando chove dentro?
Cabe tudo no silêncio do meu quarto – talvez a metáfora seja essa
http://icantexplainitwithout.wordpress.com/
Um comentário:
Meu deus, como isso veio parar aqui!?
hahaha, não estou brava, só achei engraçado, porque eu não sei quem é você. (eu acho)
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