hoje passei na biblioteca. tive a sorte do sistema estar fora do ar. ela estava vazia.
procurei o velho cantinho no último andar, o dos periódicos.
sentei na mesinha, só com a chave do armarinho e o telefone. esperava algo.
me debrucei na dita e comecei a chorar. como há tempos não fazia.
parecia que a cadeira se lembrou de mim, e se adaptou à minha maneira curva de sentar e lamentar.
me sufoquei com a cabeça enfiada entre os braços, afogando-me nas próprias lágrimas.
fiz isso longe, porque não queria que vissem minha fraqueza, não queria que vissem que existe um eu atrás de mim.
me senti um fracasso. minha vida tem sido um fracasso diário. acordar sempre com a vontade de fazer diferente e voltar com a sensação de que a única diferença é que não fiz nada de bom, me deixou triste.
pensei no sucesso dos meus irmãos, dos meus pais, dos meus amigos.
enfiei ainda mais minha cabeça entre os braços e chorei. minha vida é um fracasso imenso.
andei por entre as prateleiras, e sei exatamente onde fica cada periódico, cada assunto, num mapa mental.
a biblioteca tem um ar nostálgico, os papéis velhos marcam um tempo que não volta mais.
pensei na minha vida de novo, e nos tempos que não voltam, e como um periódico, tenho que ler de novo tudo que vivi e repensar, reavaliar, fazer uma nova teoria pra viver melhor. pra dar forma ao que venho feito, pra mudar o rumo, ser revolucionária.
saí quando todos já tinham ido. numa vontade louca de dormir ali. com aquele cheiro de papel velho.
deitei no banco, fiquei observando as flores amarelas... como eram bonitas, e como poderiam ser tão bonitas a pesar de viverem tão pouco.
pensei de novo na minha vida. de como podia ser tão bonita e durar tão pouco.
como no livro, gostaria de colocá-la numa redoma pra não ter larvas e não ser confundida com as ervas daninhas.
mas não dá. não consigo colocar a minha vida num vácuo, protegê-la de qualquer coisa.
fui embora à luz do luar. sozinha.
num dia que planejei ser um novo começo, terminou sem um final feliz.
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