quarta-feira, 19 de maio de 2010
Saudade
É que sentir saudade não é ruim, não é penoso, não faz ser triste ou infeliz. Não deixa-se de ser. Se é por inteiro. Sentir saudade é ter a certeza de que se viveu. E que se vive. Tão intensamente que se confunde com o passado, com o que poderia ter sido e não foi. É sentir que no meio da dureza, no meio do sólido existe o impalpável, inexplicável. Perceber o que não é visto, não se pode pegar, por numa sacola, levar consigo. É estar em toda parte. É ser em tudo. Em todos os estados. Saudade é aquilo que não dói, que faz um semblante sem bem saber como. Não é maldade, nem um mal querer. É tal que não se escolhe e nem é escolhido. Está ali, em qualquer lugar. É a metária impalpável do humano, é o sem gosto, sem cheiro, o que passa e fica. Fica. Não desprende de nada. Não dá pra largar e deixar. Está em tudo. É tudo. É a fuga, e o refúgio nas horas de aflição, ora a própria aflição. Não importa. Se volto é por saber que aqui há saudade. Da coisa boa. Sem querer voltar. Não há volta, se é a todo momento, em todo lugar. Não há partida, se está em tudo, em todos. Não é ruim ou boa. O refúgio não tem adjetivo. É por si só o todo, o tudo. Está em tudo, não tem tempo, não é pelo tempo que se marca. É pelo espaço que se tem a certeza de que está ali, vivo, sentido, sentindo. E o espaço, mesmo vazio, está em todo lugar, e o lugar está em tudo, é seu. Sem forma, sem sentir, está ali, fazendo companhia, fazendo sentir o vivo e que continuará vivo. A saudade jamais vai se afastar, não pode. Sem isso não se sente, não se vive. E a morte é a sentença de que não se viveu. O fim da saudade é a certeza que não se vive. E seria terrível. Morte é não estar, estando. Saudade é a certeza da vida, do viver.
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