Não vou mais seguir a sombra, tentar sentir o suspiro, cheirar a brisa da noite. O vazio me incomoda, mas talvez tenha que ser sentido. O vácuo talvez seja mais interessante e mais internalista.
A sombra se faz presente porque procuro algo, porque tento me esconder nela pra ver e não ser vista. E isso não tem sido útil. O suspiro revelador mostra o quanto a vida é cansada, dura, e não é bom se esconder por ele. Apresentar a fraqueza da fadiga diária do não-ser. A brisa ensaia uma visita, uma vista, uma sensação de conforto falso, que também não dá mais pra sentir.
O vácuo é a possibilidade de encher. É o vazio que faz surgir coisas novas, que pode ser preenchido a qualquer instante e despreenchido também. É no vácuo que se encontra para além de todas as coisas desse mundo, para além do simples viver do dia-a-dia. É ali que se sente conforto legítimo. O que se pode ser sem medo ou avaliações.
Não é nenhuma forma de dor, felicidade ou afeto. É o ser simplesmente. Como tem sido todos os dias. É nesse não lugar que as coisas acontecem, nesse espaço que me fixo voando que me territorializo em mim. É neste lugar que me encontro, sem idas e vindas, num vai e volta de pensamentos e ações.
É nesse território sem leis alheias que me faço em mim. É nesse lugar que me encontro no íntimo, profundo e tocante. Eu mesma. Sem rodeios.
É nesse espaço-território-lugar que não tem igual para mais ninguém, que é só meu e que pode ser visto por qualquer um, mas intocável para todos. Ali é minha vitrine, com trocas de roupas, mas sem a troca da essência. Onde posso ser tema e figurante de todas as ações. Onde posso ser a crítica e a auto-crítica sem maiores rodeios.
É no vácuo da existência que existo em mim para mostrar aos outros o que sou. Ninguém está convidado a entrar, partilhar dessa nova terra que está a exposição. Não existe convite para o Espaço aleatório do sentir, do ser e parecer. Existe eu, você que não numa mera soma apresenta um conjunto, mas numa confluência de sinais que aparece o todo. Não desvinculado, mas separado.
Em qualquer lugar existe tudo o que imagina, mas no meu só tem o que quero e o que posso imaginar, o que sou, sinto e o que posso mostrar.
Ali não tem a quem seguir, não tem o que a se cheirar, sentir, esconder. Eu por mim mesma.
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